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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cigarros a palito

Houve um tempo em que todos fumavam.
Seu vizinho fumava, seu irmão mais velho fumava,
seu tio fumava, até seu pai fumava.
O cigarro, endeusado pelo cinema e pelo marketing
(antes dizia-se: propaganda) era o fino para as pessoas.
Pessoas até muito diversas, como as solitárias que encontravam
no cigarro um prazer raro, as que praticavam esportes e fumavam
descoladamente e outras pessoas até sérias que fumavam cigarros
importantes ou importados.
Também houve a venda de cigarros fora do maço, o chamado cigarro
a palito ou a granel, vendido por unidade.
Localizados na época, vamos ao assunto, finalmente.
Dizem que eu quando garoto era bom em fazer negócios, apesar de
dizerem que eu era lento em contas, uma contradição!
Num desses negócios, uma irmã mais velha, que já fumava descoladamente
e trazia com ela uma outra mais nova, pediu-me que comprasse
uns cigarros a palito no boteco da esquina, pois naquele tempo mulher
em boteco só se fosse de má fama.
Eu, apesar de não me chamar Gerson, já gostava de levar vantagem em tudo,
só fazia o favor em troca de algumas balas ou alguns centavos, que na época
compravam alguma coisa.
Mas como não era muito chegado a ficar para lá e para cá, comprando
cigarros, após algum tempo pensando, resolvi juntar um dinheirinho e comprar o
maço inteiro, pois o cigarro custava nele menos que o a palito, coisa de alguns
centavos por unidade, digamos uns dez.
Quando minha irmã pedia que eu comprasse o cigarro para ela, eu pegava o dinheiro
e fingia sair para o boteco, mas eu ia mesmo ao meu quarto e tirava do maço a
quantidade que ela havia pedido, às vezes um, dois ou mais cigarros.
Nessa ida e vinda para disfarçar eu demorava, pois o quarto era bem perto e o boteco
bem mais longe, para não parecer que fui e voltei correndo e não estar cansado.
Aí as balas e os chicletes estavam garantidos, a renda era líquida e certa!
O que atrapalhou os negócios foi que eu ensinei o modus operandi para meu irmão
mais novo, que ainda era muito verde de experiências, e, estando eu fora, quando minha
irmã pediu a ele que comprasse o cigarro, ele o trouxe com muita rapidez, fazendo
ela desconfiar e descobrir a trama toda, desfazendo um empreendimento que ia de vento
em popa!
Apesar da descoberta do meu lucro e eu da mais valia, minha irmã achando graça no negócio
aumentou a gorjeta, ficando quase igual ao que eu tinha antes!
Mas a graça da brincadeira já corria de boca em boca, e minha fama não ficou nada boa!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Novas histórias

em uma família grande como a nossa, existem muitas histórias. antigas e novas.
eu tenho uma história nova, que pouca gente sabe.
dona ambrosina, minha vó, gosta e muito de viajar. a sorte é que os filhos, que não são poucos moram um em cada canto deste brasil e aí dá muitos motivos dela passear.
duas bisnetas nasceram próximas, tanto de data, quanto em território. marina e içara.
marina nasceu em são paulo. içara nasceu na praia.
vó estava ao meu lado. passou meus últimos dias grávidas bem perto. fazendo afago e coisinhas lindas para as pequenas.
no dia que entrei em trabalho de parto. estavam presentes além dos meus sogros e marido. minha vó, minha tia e minha mãe. era a antiga geração leite, vendo nascer o século XXI. ali, da minha barriga.
dias antes, sentamos todas a mesa para um café de tarde. e eu me senti plena e forte e capaz de parir como minha vó fez 11 vezes antes de mim.
ela teve 11 filhos. 10 vivos e a primeira morreu. ela fala da primeira, como se tivesse vivido muito. com um carinho e um cuidado que só mãe tem.
é lindo de ver.
e eu quando criança, tinha medo dessa vó. achava-a brava. hoje a acho um doce. uma senhora com mais de 80 anos, 10 filhos, sei lá quantos netos e 4 bisnetos. uma vida cheia de bordados, luta, dificuldades, conquistas, tricôs e crochês. uma vida cheia de histórias antigas e continua a fazer novas e novas histórias, viagens, passeios e amigos.

uma mulher forte, viva e intensa. uma história linda que só me dá orgulho de ser neta de dona ambrosina viana leite.

bruna leite santana

sábado, 16 de maio de 2009

O menino

O dia era sempre o domingo. Dia de acordar mais tarde, do macarrão e galinha no almoço. E dia do menino, também. Todo domingo ele vinha com os pais, e, assim que pisava os pés em casa, a primeira coisa que fazia era ir ao nosso quarto, que ficava nos fundos, e bater forte com as duas mãos na porta.
Eu, apesar do domingo, já estava acordado há tempos, esperando-o. Às vezes nem dava a ele tempo de bater à porta, para não acordar os irmãos, que resmungavam disso:
- Leve esse menino daqui! Não se pode nem dormir sossegado!
Bem, era assim o menino! Ele chegava e a rotina da casa mudava para mim, pois eu o pegava pelas mãos, pois ele já estava com seus dois a três anos, e saía rápido do quarto, não deixando-o fazer muito barulho.
Íamos pela calçada, na frente da casa, ele com um triciclo de plástico, pedalando forte, eu atrás empurrando e fazendo graça. Na vizinhança todos perguntavam por ele:
- De quem é?
- Nossa, tão fofinho!
- Caminha igual ao avô!
Realmente ele tinha lá suas semelhanças com meu pai, baixo, gordo, e andava com os braços meio abertos, jogados um pouco para trás.
Lá pela hora do almoço, que era sempre por volta do meio-dia, eu já estava bem cansando de andar com ele para todo lado, então assistíamos um pouco de televisão, e, como meus pais sempre dormiam após o almoço, levava-o para nosso quarto, onde os irmãos já estavam acordados .
Fim do domingo, ele ia embora com os pais para sua casa, na segunda-feira todos de casa ou trabalhavam ou estudavam, e a casa ficava mais silenciosa outra vez.
Domingo, outra vez. Lá estava eu, deitado no beliche, esperando já acordado o menino chegar, fazendo barulho e correndo para os fundos da casa para bater com as mãos, fortes, em nossa porta.

domingo, 19 de abril de 2009

Vô Caetano



Engraçado não lembrar assim de cara, de muitas histórias..

Lembro de cheiros, de situações cotidianas..

De ir no fim de semana na casa de vó. Vô Caetano no muro (ainda sem grades) ou sentado na cadeira, logo na entrada da sala. Daquela barriga confortável e do umbigo grande e fundo, que eu tanto adorava enfiar o dedo.. coisa boba de neta. 

Fazem anos que vô morreu. E eu ainda sinto o cheiro dele pela casa quando volto lá. Adorava aquele cofre grande, que vez ou outra tive a sorte de ver aberto. Vô comendo fruta no quintal e os cachorros a lhe rodear os pés.  

Lembro dos passarinhos, do carro vermelho, das camisas de botão e da voz forte ao telefone, se não me engano preto, "1507".

saudades.. 

Bruna

sábado, 16 de agosto de 2008

Motorzinho

Todos nós certamente já tivemos um apelido na vida. Começa cedo, ainda criança.
Os pais chamam de Bilu-Bilu, as tias de Fofutcheco, os vizinhos de Que Lindinho, e por aí vai. Até aí tudo bem, somos bebês e não entendemos nada sobre apelidos.
Já um pouco maiores, lá pelos dez anos, as coisas mudam bastante. Te chamam de careca, vesgo, perna torta, branquelo azedo, nego feio, peidorreira, macaco!
Alguns ficam de olho em você só pensando no apelido que vai botar, como Edson, que, dizem, botava o apelido em todo mundo lá em casa. Não vou contar o dos outros, pois posso apanhar ainda, só os meus: Bilac, Olavo Bilac, preguiça, tosse-tosse ou tossinha, raivinha, eram alguns dos que mais me incomodavam.
Quando queriam irritar-me era só dizer "Olá, vô, Bilac!". Eu ficava possesso.
Muitos amigos tiveram apelidos assim. Muitos com acuidade, diga-se de passagem, e apelido só pega se você se incomodar com ele.
Havia um rapaz vizinho, não lembro o nome dele, tanto que só era conhecido, com muita razão, como Motorzinho.
Ele teve paralasia infantil quando menor, ficando com a perna esquerda defeituosa, bem mais fina que a direita e sem movimentos. Quando andava Motorzinho empurrava a perna com a mão por trás da coxa. Mas ele não dava a menor atenção, pois ele corria, jogava bola, pulava corda, andava de bicicleta, nadava, tudo como se tivesse as duas pernas boas. E fazia tudo melhor que todo mundo. Era uma verdadeira inspiração, acho que foi com ele que aprendi a respeitar pessoas com deficiências e aceitá-las como são.
Motorzinho tinha vários irmãos, acho que ele era o mais velho, mas ele era tão carismático que não me lembro dos outros.
Ele tinha uma bicicleta forte, do tipo de carga, porém sem aquele bagageiro na frente, que ele tirava pois achava feio. Era uma bicicleta forte, toda preta, por isso apelidada de Viúva Negra. Onde quer que fôssemos de bicicleta Motorzinho também ia. Apostávamos corrida, e ele ganhava todas.
Fomos uma vez a um bairro distante de casa, subindo a pé uma estrada beirando o rio, que estava bastante cheio devido às fortes chuvas da época. Éramos mais de dez garotos, todos guiados por Motorzinho. A maioria sabia nadar e levamos uma bóia grande, de pneu de caminhão, para descer o rio.
Chegando ao ponto em que queríamos, olhamos o rio de cima de um paredão de pedra que margeava o rio naquele ponto. Era assustador. O rio roncava forte naquele ponto, espremido pela parede de um lado e por uma ilhota grande do outro.
Ficamos bem receosos em pular. Motorzinho então, baixando a cabeça e, lançando os braços à frente, pulou. Aí fomos todos atrás, jogando a bóia dentro da água, subindo nela, cruzando as pernas por dentro, com três ou quatro em cima, e depois se jogando na água, fazend0-a virar. No meio do rio havia várias ilhotas menores, com ingazeiras carregadas.
Então subíamos nela e enchíamos a boca de sementes cobertas de ingá.
Motorzinho ia sempre a frente, puxando a turma. No ponto final, parávamos numa ilha onde tinha um campinho de futebol com traves e tudo. Alguém aparecia com uma bola, e lá estava Motorzinho, correndo feito um louca com ela, chutando com uma perna só.
E ainda por cima fazendo gols.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Vamos a la plaia, ohohohoho!

De praia certamente todos tem histórias. Lembro um pouco de uma com meu pai e Robinho, no tempo em que estávamos cabeludos, imitando hippies e lutando muito caratê e kung-fu, e dando tiro com dedo indicador e fazendo o som do disparo com a boca. Coisas boas de meninos!
Fomos de carro, nos três apenas, na praia de Mucuri, se bem me lembro. Pegamos muito sol e muita onda, na beirinha claro, pois ainda não éramos bons o suficiente na natação. Acho que levamos lanche para comer, frutas, não me lembro bem.
Na volta para casa, logo na saída, pai acelerou forte para ultrapassar um Jeep cheio de rapazes dentro fazendo arruaças típicas de carnaval. Estávamos num Corcel, creio que o azul, o escapamento roncando alto.
A pista de terra batida era mais alta que a areia do local. Ao fazer a ultrapassagem pelo lado esquerdo, jogando poeira no Jeep, e tentar voltar para a direita, pai perdeu o controle do carro e saímos da estrada, sem acostamento e quase um metro abaixo da pista. Depois do susto, ninguém machucado, nem o carro estragado! Muita sorte!
Porém, como tirar o carro? Dois meninos e meu pai só certamente não conseguiriam.
Então vi os rapazes vindo com o Jeep, chegando perto. Pensei "vão jogar poeira em nós e sumir na estrada".
Felizmente desceram uns dez do Jeep, foram até o nosso carro, e, balançando-o para lá e para cá, colocaram o carro de volta na estrada. Foi uma diversão!
Fora o susto e cara sapecada de sol, foi um passeio e tanto!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Chicotinho queimado

Algo que me lembro bem, foi uma vez que fomos à fazenda dos Pinto, que freqüentávamos muito.
Depois de chupar muita cana, manga e andar a cavalo e tomar banho na lagoa, ganhei de Nezinho um chicote de couro para tocar o cavalo estando montando na sela. Fiquei todo besta, era todo de couro e novo, tinha um laço que prendia-se no pulso, e, com a mão direita segurava-se num tirante de couro, onde, depois, um aro de ferro levava preso a ele duas tiras de palmo e meio de comprimento.
Como voltei tarde em casa, minha paga já foi com o dito!
Levei uma surra e perdi o presente, que ficou escondido muito tempo com mãe. Uma verdadeira ameaça! E eu levando ainda uns cascudos dos irmãos por ser o culpado de ter ganhado o presente, porque também era usado para surrá-los.
Depois de muito procurar, encontrei o danado. Mudei o esconderijo para a madeira de sustentação do telhado no nosso quarto. Lá, mesmo que mãe achasse não dava para ela pegar. Felicidade geral!
Perdi o presente, mas fiquei com o rabo sem doer durante muito tempo.