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sábado, 16 de agosto de 2008

Motorzinho

Todos nós certamente já tivemos um apelido na vida. Começa cedo, ainda criança.
Os pais chamam de Bilu-Bilu, as tias de Fofutcheco, os vizinhos de Que Lindinho, e por aí vai. Até aí tudo bem, somos bebês e não entendemos nada sobre apelidos.
Já um pouco maiores, lá pelos dez anos, as coisas mudam bastante. Te chamam de careca, vesgo, perna torta, branquelo azedo, nego feio, peidorreira, macaco!
Alguns ficam de olho em você só pensando no apelido que vai botar, como Edson, que, dizem, botava o apelido em todo mundo lá em casa. Não vou contar o dos outros, pois posso apanhar ainda, só os meus: Bilac, Olavo Bilac, preguiça, tosse-tosse ou tossinha, raivinha, eram alguns dos que mais me incomodavam.
Quando queriam irritar-me era só dizer "Olá, vô, Bilac!". Eu ficava possesso.
Muitos amigos tiveram apelidos assim. Muitos com acuidade, diga-se de passagem, e apelido só pega se você se incomodar com ele.
Havia um rapaz vizinho, não lembro o nome dele, tanto que só era conhecido, com muita razão, como Motorzinho.
Ele teve paralasia infantil quando menor, ficando com a perna esquerda defeituosa, bem mais fina que a direita e sem movimentos. Quando andava Motorzinho empurrava a perna com a mão por trás da coxa. Mas ele não dava a menor atenção, pois ele corria, jogava bola, pulava corda, andava de bicicleta, nadava, tudo como se tivesse as duas pernas boas. E fazia tudo melhor que todo mundo. Era uma verdadeira inspiração, acho que foi com ele que aprendi a respeitar pessoas com deficiências e aceitá-las como são.
Motorzinho tinha vários irmãos, acho que ele era o mais velho, mas ele era tão carismático que não me lembro dos outros.
Ele tinha uma bicicleta forte, do tipo de carga, porém sem aquele bagageiro na frente, que ele tirava pois achava feio. Era uma bicicleta forte, toda preta, por isso apelidada de Viúva Negra. Onde quer que fôssemos de bicicleta Motorzinho também ia. Apostávamos corrida, e ele ganhava todas.
Fomos uma vez a um bairro distante de casa, subindo a pé uma estrada beirando o rio, que estava bastante cheio devido às fortes chuvas da época. Éramos mais de dez garotos, todos guiados por Motorzinho. A maioria sabia nadar e levamos uma bóia grande, de pneu de caminhão, para descer o rio.
Chegando ao ponto em que queríamos, olhamos o rio de cima de um paredão de pedra que margeava o rio naquele ponto. Era assustador. O rio roncava forte naquele ponto, espremido pela parede de um lado e por uma ilhota grande do outro.
Ficamos bem receosos em pular. Motorzinho então, baixando a cabeça e, lançando os braços à frente, pulou. Aí fomos todos atrás, jogando a bóia dentro da água, subindo nela, cruzando as pernas por dentro, com três ou quatro em cima, e depois se jogando na água, fazend0-a virar. No meio do rio havia várias ilhotas menores, com ingazeiras carregadas.
Então subíamos nela e enchíamos a boca de sementes cobertas de ingá.
Motorzinho ia sempre a frente, puxando a turma. No ponto final, parávamos numa ilha onde tinha um campinho de futebol com traves e tudo. Alguém aparecia com uma bola, e lá estava Motorzinho, correndo feito um louca com ela, chutando com uma perna só.
E ainda por cima fazendo gols.

Um comentário:

Jouhilton disse...

Olá Cecília !
Na Lira tem instrumentos de sopro e cordas friccionadas ( violinos , viola, celo) as inscrições são aberta no inicio do ano
para saber masi procure a secretaria da Lira la tem todas as informaçoes ok!
grande abraço musical