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sábado, 16 de maio de 2009

O menino

O dia era sempre o domingo. Dia de acordar mais tarde, do macarrão e galinha no almoço. E dia do menino, também. Todo domingo ele vinha com os pais, e, assim que pisava os pés em casa, a primeira coisa que fazia era ir ao nosso quarto, que ficava nos fundos, e bater forte com as duas mãos na porta.
Eu, apesar do domingo, já estava acordado há tempos, esperando-o. Às vezes nem dava a ele tempo de bater à porta, para não acordar os irmãos, que resmungavam disso:
- Leve esse menino daqui! Não se pode nem dormir sossegado!
Bem, era assim o menino! Ele chegava e a rotina da casa mudava para mim, pois eu o pegava pelas mãos, pois ele já estava com seus dois a três anos, e saía rápido do quarto, não deixando-o fazer muito barulho.
Íamos pela calçada, na frente da casa, ele com um triciclo de plástico, pedalando forte, eu atrás empurrando e fazendo graça. Na vizinhança todos perguntavam por ele:
- De quem é?
- Nossa, tão fofinho!
- Caminha igual ao avô!
Realmente ele tinha lá suas semelhanças com meu pai, baixo, gordo, e andava com os braços meio abertos, jogados um pouco para trás.
Lá pela hora do almoço, que era sempre por volta do meio-dia, eu já estava bem cansando de andar com ele para todo lado, então assistíamos um pouco de televisão, e, como meus pais sempre dormiam após o almoço, levava-o para nosso quarto, onde os irmãos já estavam acordados .
Fim do domingo, ele ia embora com os pais para sua casa, na segunda-feira todos de casa ou trabalhavam ou estudavam, e a casa ficava mais silenciosa outra vez.
Domingo, outra vez. Lá estava eu, deitado no beliche, esperando já acordado o menino chegar, fazendo barulho e correndo para os fundos da casa para bater com as mãos, fortes, em nossa porta.