Houve um tempo em que todos fumavam.
Seu vizinho fumava, seu irmão mais velho fumava,
seu tio fumava, até seu pai fumava.
O cigarro, endeusado pelo cinema e pelo marketing
(antes dizia-se: propaganda) era o fino para as pessoas.
Pessoas até muito diversas, como as solitárias que encontravam
no cigarro um prazer raro, as que praticavam esportes e fumavam
descoladamente e outras pessoas até sérias que fumavam cigarros
importantes ou importados.
Também houve a venda de cigarros fora do maço, o chamado cigarro
a palito ou a granel, vendido por unidade.
Localizados na época, vamos ao assunto, finalmente.
Dizem que eu quando garoto era bom em fazer negócios, apesar de
dizerem que eu era lento em contas, uma contradição!
Num desses negócios, uma irmã mais velha, que já fumava descoladamente
e trazia com ela uma outra mais nova, pediu-me que comprasse
uns cigarros a palito no boteco da esquina, pois naquele tempo mulher
em boteco só se fosse de má fama.
Eu, apesar de não me chamar Gerson, já gostava de levar vantagem em tudo,
só fazia o favor em troca de algumas balas ou alguns centavos, que na época
compravam alguma coisa.
Mas como não era muito chegado a ficar para lá e para cá, comprando
cigarros, após algum tempo pensando, resolvi juntar um dinheirinho e comprar o
maço inteiro, pois o cigarro custava nele menos que o a palito, coisa de alguns
centavos por unidade, digamos uns dez.
Quando minha irmã pedia que eu comprasse o cigarro para ela, eu pegava o dinheiro
e fingia sair para o boteco, mas eu ia mesmo ao meu quarto e tirava do maço a
quantidade que ela havia pedido, às vezes um, dois ou mais cigarros.
Nessa ida e vinda para disfarçar eu demorava, pois o quarto era bem perto e o boteco
bem mais longe, para não parecer que fui e voltei correndo e não estar cansado.
Aí as balas e os chicletes estavam garantidos, a renda era líquida e certa!
O que atrapalhou os negócios foi que eu ensinei o modus operandi para meu irmão
mais novo, que ainda era muito verde de experiências, e, estando eu fora, quando minha
irmã pediu a ele que comprasse o cigarro, ele o trouxe com muita rapidez, fazendo
ela desconfiar e descobrir a trama toda, desfazendo um empreendimento que ia de vento
em popa!
Apesar da descoberta do meu lucro e eu da mais valia, minha irmã achando graça no negócio
aumentou a gorjeta, ficando quase igual ao que eu tinha antes!
Mas a graça da brincadeira já corria de boca em boca, e minha fama não ficou nada boa!
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
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